terça-feira, 27 de novembro de 2012

Um Bosque


Relatos De Um Bosque

Eu caminhava por um bosque,
E as árvores do bosque eram pessoas,
E o bosque ficava num deserto,
E, mesmo assim,
Tinha água,
E era mais de uma água,
E as águas eram lágrimas,
E o meu pensamento, úmido,
Deixava correr... Deixava correr...
E por isso nunca me esqueço:
As árvores choravam,
As árvores choravam orvalho.

Tinha orvalho,
No bosque tinha orvalho.
Tínhamos orvalhos
No bosque.
A seiva corria vinte mil metros dentro de mim
E derramava orvalhos pelas beiradas
Como molhos vermelhos
Por cima das bordas de catupiry.

Tinha molhos
Brancos, vermelhos, pretos e coloridos,
E em sépia também.
Era, sem dúvidas, um bosque molhado,
Regado a extratos de tomates bastante diversos
Ou não.

Os molhos molhavam, sim,
Mas tinha secura
E, portanto, chaves sem molho,
Fora do chaveiro.
O que fazer fora do chaveiro?
Girar... Girar...
Éramos chaves,
E chaves abrem,
E chaves também fecham.
Girar... Girar...
Tudo depende do sentido para o qual giramos.

Éramos barreiras...
Eu era barreira
E chave da minha própria barreira.
Todos éramos barreiras,
Barreiras de nós mesmos
E chaves de nossas próprias barreiras.

Imaginávamos...
Imaginávamos...
E, todavia, o que havia do outro lado
Era muito mais do que aquilo que, de fato,
Imaginávamos.

Não sei o quê, mas muito mais...
Muito mais...
Do outro lado da barreira,
Do outro lado da barreira.

Tinha lenhadores no bosque,
Nós-lenhadores de nós mesmos.
Tinha lenhadores...
Tinha.

Podavam para crescer,
Porque nossos galhos crescem...
E vão ficando pesados demais,
E nos derrubam.
Sim, nossos próprios galhos nos derrubam.

Ainda bem que havia lenhadores.

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